Ele era um gigante. Enorme, de pele marrom e pouco cabelo na cabeça. Sempre muito sério, adorava falar em inglês. Conhecia outros idiomas, mas esse era o seu predileto. Diziam que aprendera sozinho, memorizando um dicionário. Achava essa história fabulosa e titânica. Sim, ele era um titã para mim.
Sua voz era grave, meio rouca. Uma voz que lembrava risada de Papai Noel. Além disso, sua voz também era forte, estrondosa. Ao chegar em casa, gritava: "Open the gate!" e nós corríamos para abrir o portão e recebê-lo.
Ele também gostava de gritar com os âncoras do jornal. Sempre que algum deles falava algo que o contrariava, gritava: "Mentira!" Geralmente, tinha razão. Sua revolta era gerada pela hipocrisia que conseguia perceber nas falas de repórteres e entrevistados.
Meu avô nunca chorava e sorria pouco. Era um homem sisudo, sempre sério. Enérgico no que acreditava, muitas vezes chamou minha atenção dizendo que eu deveria aprender a falar inglês e outros idiomas. Sinto demais não tê-lo escutado.
Certo dia, cheguei à casa de meus avós e soube que a irmã do meu avô, chamada Rosa, tinha falecido. Fui até a sala onde meu avô estava. Ele se mantinha sentado em sua poltrona favorita, imóvel, como se fosse feito de pedra. Olhava fixamente para frente, sem dizer uma palavra. Respeitoso, perguntei como ele estava. Meu avô nada disse e eu não insisti.
Foi então que vi escorrer de seu olho esquerdo uma única lágrima. Ele não fez menção de enxugá-la. Deixou-a escorrer livre, até o queixo, onde se perdeu ao pingar na camisa.
Essa única lágrima foi a primeira que vi no rosto de meu avô.
Relato emocionante! Como você escreve bem! Que riqueza!!!
ResponderExcluirObrigado por ler e comentar, mamãe. Amo você.
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