Uma presença inegável respondeu como algo que invadia sua mente
qual uma onda. Lorguth atendia ao seu chamado com uma vivacidade
incrível. Da lâmina emanavam sentimentos muito próprios, mas era
difícil para Seridath identificá-los, distingui-los dos seus
próprios sentimentos. Mais uma vez o rapaz teve medo. Temeu ser
subjugado. Lembrou-se então da vergonha que sentira quando a espada
não funcionou. Aquilo tudo era parte do teste e, para ser aprovado,
ele precisava dominar sua arma, fazê-la erguer suas vítimas para
que elas novamente lutassem por ele.
O rapaz levou um bom tempo para conseguir separar os seus pensamentos
dos de Lorguth. Quando sentia cansaço mental por causa do exercício,
deixava de tocar a lâmina para conseguir certificar-se de seu
próprio eu. Mas logo ele já conseguia identificar a presença da
consciência da espada junto à sua própria. Percebeu que Lorguth
transbordava volúpia. Ela havia impulsionado a querela contra
Balgata e o desprezo contra Aldreth. Talvez ela o tivesse impelido a
ingressar na Companhia. Até aquele momento, o rapaz não fizera nada
mais do que obedecer aos impulsos caóticos de sua companheira.
Outro sentimento forte na lâmina era uma euforia quase pueril.
Lorguth não estava interessada no sangue dos homens dentro da
cidadela. Ela ansiava provar o sangue de algo maior, mais forte.
Seridath sentiu uma palavra surgir involuntária em sua mente:
“Tominaro”. O guerreiro surpreendeu-se, desconhecendo o
significado dessa palavra. Mas havia também outra coisa, a
expectativa de um encontro. A espada transmitiu a Seridath que havia
um ente incrivelmente poderoso naquele exército de mortos. Talvez
mais de um.
Aquilo era um problema para Seridath. Balgata e os outros esperavam
que ele cumprisse sua parte no assalto. O guerreiro precisava invocar
os servos de Lorguth antes que a caravana chegasse à cidadela. Ele
acreditava que todos os entes vivos que fossem mortos pela sua espada
deveriam tornar-se como aqueles dois monstros que surgiram em Keraz.
Na verdade, deveriam ser três, o número de vítimas que Seridath
fizera em sua primeira luta. E se suas suposições estivessem
corretas, os argros e as criaturas mutantes engrossariam suas
fileiras.
Se três monstros fizeram aquele estrago em Keraz, as novas vítimas
seriam uma temida força, e Seridath contava com isso. O plano era
simples: Balgata e alguns homens teriam que segurar os portões
abertos até que os servos invadissem e matassem qualquer inimigo,
poupando somente quem estivesse desarmado. O capitão parecera
vacilante na adoção a esse plano, mas as opções de que dispunha
eram realmente escassas.
Enquanto Seridath estava imerso em sua luta pessoal com Lorguth, os
sobreviventes se preparavam para dar início ao plano para tomar
Arnoll. Balgata ainda lançou um olhar para trás, para o interior do
bosque, esperando que sua escolha não os condenasse. Era um risco
que estava disposto a correr.
Nas entranhas do bosque, Seridath continuava a fazer suas
descobertas, como que mergulhado em profunda meditação. O jovem
começava a distanciar-se da realidade sensível e física, para
penetrar em uma densa escuridão. Lentamente ele começou a perceber
que agora era a espada que o conectava ao mundo real. Deixou-se
levar, ainda que com cuidado, por esse caminho escuro, penetrando em
trevas profundas.
Continua em O Assalto - Parte I de III
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