Berak observava a escaramuça, ainda sem processar o que acontecia.
Não eram camponeses, e sim soldados. Não devia ter mandado vinte
homens, mas cinquenta. O bandido praguejou, enquanto berrava ordens
para que os demais integrantes do bando auxiliassem na defesa do
portão. Uma turba correu para a confusão que se formava.
Havia alguns homens nas ameias com bestas, armas que lançavam setas
mortais.
A formação circular com escudos unidos estava desajeitada e dois
morreram recebendo estocadas nos espaços entre as bordas dos
escudos. Os bandidos também não eram profissionais e isso garantiu
a Balgata que as mortes não fossem tantas. Ele havia determinado que
dois guerreiros estivessem de um lado e do outro de cada aldeão.
Dessa forma, as duas brechas abertas pelas mortes foram logo
fechadas, mas o círculo ficou menor. Balgata percebeu que ainda
havia bandidos dentro dos portões e, se fossem rápidos, poderiam
tentar empurrar os inimigos, levando a luta para aquela passagem mais
estreita.
– Vanguarda, homens! Anões, retaguarda! Arqueiros, ameia!
O capitão deu ordens rápidas. Com movimentos sincronizados, os
guerreiros empurraram os escudos, golpeando bandidos e assustando os
cavalos daqueles que ainda estavam montados. Imediatamente o círculo
tornou-se uma cunha, que quebrou o cerco de homens e pôs-se contra
os inimigos que chegavam pelo portão, enquanto os anões lutavam
pela retaguarda. Uri golpeou o peito de um cavalo com selvageria. O
animal empinou, tendo ainda a poderosa lâmina empalada em seu corpo,
enquanto o bandido que o montava foi ao chão, para ser cruelmente
retalhado pelos furiosos anões. Uri largou o cabo do seu machado,
deixando que o cavalo moribundo se afastasse com a arma, e puxou uma
adaga que estava embainhada às suas costas. Aldreth e outros
arqueiros faziam suas flechas estalarem nas pedras da ameia. E Thin
quase foi alvejado, tendo se abaixado com rapidez, enquanto as pontas
de metal ricocheteavam na rocha. Guerreiros e anões gritavam em
fúria, enquanto camponeses choravam ou faziam coro aos furiosos
gritos. Guerreiros nasciam naquela desesperada escaramuça.
“Nibala!” pensou Balgata. “Onde está aquele maldito?”
Tiveram a surpresa como aliada, mas estavam em minoria e seriam
aniquilados, ainda que levassem boa parte dos inimigos com eles. Os
bandidos nas ameias despejavam setas sobre os atacantes, que já
estavam acumulados no portão. O capitão sentiu a fisgada de uma
seta que penetrou em seu ombro direito. O braço que sustinha o
escudo fraquejou, mas o guerreiro deu um berro, enquanto golpeava o
oponente à frente num movimento transversal, decepando sua orelha
direita e fazendo a espada penetrar na junção do pescoço com o
ombro. O guerreiro ao lado de Balgata cedeu, desabando como se
tivesse sido puxado para o chão. Uma lança havia feito um rombo em
seu elmo. O inimigo puxou de volta o cabo da lança, tentando soltar
a ponta que estava enganchada no elmo do guerreiro da Companhia. O
capitão pisou no cabo e girou a espada para a direita, de forma que
o corte horizontal foi tão rápido que sibilou, atingindo o inimigo
na têmpora direita. A espada já tinha perdido o fio, mas a lâmina
atravessou de um lado a outro, fazendo o sangue ser lançado como um
vapor escarlate, tingindo de vermelho os outros bandidos. Os homens
recuaram e Balgata adiantou-se. Espumava como um cão raivoso e sua
visão tornava-se um borrão, enquanto ele distribuía golpes cegos.
A razão voltou à mente de Balgata quando ele ouviu um grito
medonho. Manteve sua posição, sem se virar. Os oponentes de repente
mostraram uma expressão de espanto e horror em seus rostos para,
logo depois, tentarem fugir, sendo mortos pelas costas ou por
espadas, ou por flechas. Os bandidos que estavam mais próximos aos
portões tentaram fechá-los, mas foram impedidos por uma turba de
criaturas horrendas, putrefatas, que invadiam a cidadela com uma
rapidez assombrosa. Corpos reanimados pelo maligno poder de Lorguth,
a espada das sombras.
Continua...
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