"Ninguém põe fé que uma menina de catorze anos possa sair de casa e viajar em pleno inverno para vingar a morte do pai, mas na época não pareceu tão estranho, embora eu deva reconhecer que isso não acontece todo dia. Eu tinha só catorze anos quando um covarde que atende pelo nome de Tom Chaney meteu uma bala em meu pai lá em Fort Smith, Arkansas, e roubou sua vida, seu cavalo e 150 dólares em dinheiro, mais duas moedas de ouro da Califórnia que ele levava em uma faixa na cintura."
Resolvi iniciar a resenha de Bravura Indômita com as primeiras palavras do romance, deixando que a própria Mattie Ross fale por si, pois a corajosa menina de 14 anos dita o tom do enredo, sendo ela a Guardiã desta história.
Charles Portis deu forma a este romance em 1968, ambientando sua história ocorrida por volta de 1870 no autêntico faroeste. Mattie, em busca de vingança pela morte de seu pai, contrata o destemperado e implacável agente federal Rooster Cogburn e parte com ele em uma incansável caçada contra o assassino, Tom Chaney. LaBoeuf, um texas ranger, acompanha o agente federal e a menina, interessado em uma outra recompensa por Chaney.
O maior mérito de Portis ao escrever o romance foi deixar claro que Mattie é uma mulher inteligente, porém não uma literata. Já adulta quando conta essa história, Mattie lida bem com as palavras, mas sem se prender em criar belas imagens ou construir metáforas de efeito. Coisa muito comum na literatura norte-americana.
Não que Bravura Indômita não tenha belas imagens. Elas apenas estão entrelaçadas pela narrativa precisa e pragmática de Mattie e se revelam muitas vezes clandestinamente, como paisagens capturadas pelos olhos da menina e revividas através da memória da mulher.
Rooster Cogburn é um anti-herói, com seu charme próprio e postura incorrigível, no tradicional estilo "mocinho cafageste", embora sua história seja bem mais humana e menos glamourosa. Sua decadência é marcante, principalmente na descrição que Mattie faz de sua vida e no destaque que ela dá ao tapa-olho do velho agente federal. LaBeouf se contrasta com Rooster por suas roupas cuidadas e atitude engomada.
Assim como seria de se esperar em um ambiente hostil como os Estados Unidos costurado recentemente pela guerra civil, os personagens são todos homens com moral deturpada e a boca maior que os atos. Chega a ser cômico em certo momento Rooster, bêbado, disputar com LaBoeuf atirando em broas de fubá, tentando provar sua bela pontaria.
E justamente cenas como esta deixam o desfecho do romance ainda mais saboroso. Vale comentar que o livro teve duas adaptações para o cinema. A primeira, de 1969, foi estralada por John Wayne e dirigida por Henry Hathaway. Em 2010 foi lançada a segunda adaptação, estralada por Jeff Bridges e dirigida pelos irmãos Coen. Não sei da primeira, mas a segunda adaptação segue fielmente o roteiro do romance.
A escolha do desfecho de Charles Portis pode ser estranho para alguns, mas considero perfeito para a proposta do romance. Principalmente porque, ao final da leitura, você pode ficar com um pouco de vontade de embarcar naquele trem rumo ao Arkansas, em busca de sua própria aventura.
Título: Bravura Indômita
Autor: Charles Portis
Edição: 1
Editora: Alfaguara
ISBN: 9788579620430
Ano: 2011
Páginas: 187
Tradutor: Cassio de Arantes Leite
Link para a página no skoob: http://www.skoob.com.br/livro/146195/
Confesso que esse tipo de romance não me agrada tanto, porém, depois dessa resenha me bateu uma vontade de ler esse livro (rs.)!
ResponderExcluirVou guardar a dica e o nome.
Ei Diego!
ResponderExcluirEu também não curto esse estilo de literatura. Só procurei o livro por causa do filme, que assisti no cinema. Por isso que acho que muitas boas adaptações de obras literárias para o cinema podem levar o leitor direto para o livro. Isso aconteceu comigo em "Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban". Fui atrás da série toda depois desse excelente filme! Abraço!
deixei de assistir ao filme, e depois de ler sua resenha, lamento por ter feito isso. Bom... fazer o que, agora é pegar o filme na locadora e depois ver se arranjo o livro. Beijos, meu querido amigo!
ResponderExcluir