A ponta de grafite desliza livre sobre o papel encardido, grampeado em bloco. O lápis é grande demais para aquelas mãos pequenas, imaturas. Tão imaturas quanto seu sonho oco. O menino não sabe ainda o quão é perigoso sonhar.
Por isso ele deixa que sua mente vague livre por caminhos já conhecidos, caminhos queridos, cheios de magia. Com suas mãos pequenas de artesão iniciante, ele costura narrativas, une mundos antes contrários. Reinventa histórias como se fossem suas. E seu peito se enche de felicidade.
O menino não quer nada além de viver um pouco mais a fantasia. Não há jeito, tão novo e já bovarista. Não se importa com os comentários alheios. Que cada um encontre seu caminho particular. Ele o encontrou nas historias que lhe foram apresentadas pelas mãos grandes e morenas. Mãos femininas.
O lápis passeia sobre o papel dias a fio. Já são tantas páginas que o menino se assusta. Quase não acredita que tenham sido fruto de horas de brincadeiras negligenciadas. Antes das férias, ainda no início de sua empresa, os colegas o inquiriam com olhares e palavras. A princípio duvidavam de sua tenacidade, mas ao verem tantos recreios passados em sala, sobre o bloco de papel, trocaram a dúvida por palavras de incentivo. Agora, longe das aulas, o tempo é quase integralmente passado em uma sala antes por ninguém usada. Com os escritos sobre uma mesa baixa e escura, o menino segue pelas sendas dos dizeres.
A jornada que ele traça é curta, porém, perigosa. Monstros se levantam ante seus heróis. O mundo costurado pelo menino sofre perigo mortal. E corajosamente seus personagens emprestados enfrentam seu destino bélico.
Está concluída a aventura. O bem triunfa. O menino suspira ao ver sua obra pronta. O trabalho é entregue às mãos morenas, agora mãos de árbitro. Os papéis são levados para longe, para além das montanhas verdes. O tempo passa enganoso, ora ligeiro, ora arrastado. O menino escuta palavras aladas de que suas folhas agora estão em um forno, cozinhando, para em breve virarem livro.
Quando chega o dia, o menino mal acredita. Em suas mãos são depositadas as mesmas páginas, agora marcadas com a letra escura e formal da imprensa. Não consegue perceber a força dessa transformação. Ainda não é tempo.
Noites claras, repletas de luzes, envolvem o menino. Noites em que ele deverá deixar seu nome em muitas cópias daquele livro. Noites em que cada pessoa levará consigo um pedaço do menino. Ele não acredita no que está diante dele. Talvez tenha sido outro a escrever aquela história. Talvez tenha sido outro a deixar seu nome na capa daqueles livros. Talvez tenha sido dessa forma que o menino percebera que seu sonho também podia amargar.
AI Nerito do céu, estou me sentindo uma tratante hehehe... desde que voltei de férias mnha vida tá uma loucura, tinha certeza de que iria conseguir ler o livro ao mesmo tempo que vcs, e comentar enquanto lia, mas não consegui!!:o(
ResponderExcluirEstou no meio do segundo capítulo ainda. Vc pode me passar seu e-mail? Assim vc entra na conversa comigo com a Dora e com a Orquidea!!! Alias, elas ja devem ter terminado!!
Bem, eu sabia que voce ia gostar do livro... quero ver sua resenha!!!
Puxa, há quanto tempo. E nem respondi este comentário. Quero resgatar esta conversa!
ExcluirAh, meu menino. Tal-vez também pode ser aquela vez em que o sonho deixou o papel e se consolidou.
ResponderExcluirRealmente, amiga. Sonhos são assim. Quando nascem, nos deixam, tornam-se outra coisa. Nem sempre a gente consegue ver isso... beijo!
ExcluirQue história bonita. Eu já conhecia, mas quando escrita tem outra perspectiva. Desejo que esse menino encontre muito as vezes esse caminho de gestar seus sonhos e se satisfazer neles. Parabéns, amor!
ResponderExcluirObrigado, amor. Realmente, preciso me reconciliar com meus sonhos, com o menino que há em mim...
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