Ao terminar minha segunda leitura de Carta aos Dinossauros, de José Wilson Barbosa Sales, sentia um travo na boca. O texto é denso, incisivo, contundente. Um emaranhado de sensações que se mesclam a entorpecimentos, uma espécie de exercício psicológico que busca extrair o que há de mais visceral em nosso ser.
O texto de José Wilson é heterogêneo, polifônico, embora todos os dez contos que compõem o livro assumam um tom pessoal, confessional e intimista. O olho que o narrador empresta ao leitor está entranhado na lama que compõe a psiquê humana, a sombra que dá forma aos nossos pavores e sonhos, numa espécie de cartografia primordial. Assim, cada narrativa acaba por ser uma faceta de um mesmo prisma que se desdobra em outras possibilidades, variações de temas similares se atravessando.
A transversalidade, portanto, presente no conjunto que compõe esse excelente Carta aos Dinossauros funciona como uma liga que sedimenta a obra, tornando-a primorosamente equilibrada. Dessa forma, é possível constatar a potência e o fôlego deste escritor.
Os contos presentes no livro levantam questões sobre a memória, a infância, as descobertas, o sexo. Cada conto tem um ritmo próprio, evitando assim a monotonia que acompanha muitas obras do gênero. Do menino da fazenda descobrindo os caminhos do sexo ao homem maduro que busca redescobrir o prazer com sua mulher, os contos apresentam personagens profundos, sujeitos aturdidos diante do absurdo de uma existência sem sentido e que buscam através da linguagem um outro viés, uma nova significação para suas vidas.
O melhor exemplo seria o conto que empresta o título à obra e a fecha. Este conto envereda-se por um caminho que passeia entre a narrativa fantástica e o fluxo de consciência, onde uma cidade titânica aos poucos vai sendo transformada pelos sentimentos de seus habitantes, que por sua vez têm seus corpos profundamente alterados pelo ambiente.
Todos esses elementos conjugados tornam Carta aos Dinossauros uma obra equilibrada mas contundente, um mapa arqueológico dos pedaços de sombra que compõem a alma humana.
Ficha Técnica
Edição: 1
Editora: Orobó Edições
ISBN: 9788587151186
Ano: 2007
Páginas: 96
Rapaz, esse filme "amnésia", é um do cara com umas fotos e tal?
ResponderExcluireu assisti sim, há uns 6 anos atrás, não me lembro ao certo da história...
Adorei o texto, deu uma tremenda vontade de ler.
ResponderExcluirVou procurar.
Oi Dora,
ResponderExcluirÉ esse mesmo. Assiste de novo... é interessante o contraponto entre eternidade e efemeridade...
Rosita, esse livro é muito bom! Recomendo mesmo.
ResponderExcluirNerito, eu nunca tinha ouvido falar do autor nem do livro. Ultimamente tenho menos tempo pra ler, então os contos acabam chamando a minha atenção de forma especial, porque a leitura não fica toda fragmentada.
ResponderExcluirMarina, esse livro eu recomendo! E o autor é peça rara, garanto!
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