Assustado com a aproximação
do outro, o rapazinho ergueu o trêmulo arco, sem força
para ao menos retesá-lo. Koen achou aquilo muito engraçado.
O garoto estava com medo, sabia que iria morrer, mas mesmo assim
decidira não fugir como fizera seu último companheiro.
– Não
temas. – disse, Koen, quase amigável – Se não me
atacar, não irei matá-lo. Talvez.
O garoto engoliu em seco, enquanto
Koen ria, sombriamente deliciado com seu próprio gracejo.
– Vo-você
matou Rerfard! – Observou o rapaz, admirado.
– E
isso é importante? – desdenhou o outro.
– Si-sim.
Ele é o mais forte, quem... quem manda... mandava por aqui.
– Bem,
creio que não mais o seja. Você não parece ter
experiência nesse ramo. O que fazia com aqueles bandidos?
– E-eles
obrigam seus escravos a lutarem, senhor. Eu fui levado há três
meses de uma aldeia bem ao sul daqui... Mataram todos... Só me
deixaram viver porque eu sou bom com o arco.
– Mas
mesmo assim você não impediu que eu matasse seu senhor.
– observou Koen, com severidade, mas também com uma gota de
gracejo em sua voz – Matei seu senhor, agora sua vida me pertence.
Quer viver?
O jovem balançou
afirmativamente a cabeça. Koen ficou por um bom tempo calado,
absorto. Havia feito uma descoberta. Todo o cansaço que o
perturbara durante a viagem havia desaparecido. Estava descansado e
bem disposto, como se tivesse dormido por uma noite inteira.
– Se-senhor?
– inquiriu o rapazinho, timidamente. Sua voz revelava o temor de
que o outro tivesse mudado de idéia, ou estivesse apenas
brincando com sua vida.
– Pois
bem. – retrucou Koen, despertando – Será meu pajem, meu
escudeiro. Qual o seu nome?
– Aldreth.
– Parece
ser um bom nome. Certo, Aldreth. Como meu servo, quero você
desça desse cavalo e ajoelhe-se aqui.
O rapaz aproximou-se e ficou de
joelhos aos pés da montaria de Koen, que permaneceu em sua
pose altiva.
– Jure.
– ordenou.
– Ju-jurar?
– garoto olhava temeroso o chão, sem ter coragem de erguer
a cabeça.
– Jure
que irá me servir.
– Mas...
mas escravos não juram.
– Não
importa. Se quer viver, faça um juramento.
– Eu
juro.
– Jura
o quê?
– Eu
juro... juro servir ao senhor e... ser o vosso servo.
– Muito
bem. – aprovou Koen – Quero que retire o dinheiro e as armas dos
mortos. Pode levar o que quiser, mas eu quero as roupas negras
daquele ali. – apontou para o líder – E quero que estejam
limpas.
Aldreth ergueu-se para seguir as
ordenanças do seu novo amo. Mas antes deu meia-volta,
aproximou-se novamente de Koen e ajoelhou-se mais do que a primeira
vez, até tocar a testa ao chão:
– Senhor,
peço misericórdia pelos companheiros mortos. Peço
que me deixe enterrá-los.
– Eles
o raptaram, o escravizaram e ainda quer enterrá-los!? –
perguntou Koen, maravilhado.
– Por
Rheena e sua misericórdia, peço para enterrá-los,
senhor! – repetiu o rapaz, com obstinação.
– Está
bem. – respondeu, irritado – Vá logo! E não fale
mais em deuses na minha presença.
O resto da tarde Aldreth passou
usando uma das espadas dos mortos para chafurdar na lama e fazer
covas para seus três antigos companheiros. Mas para a surpresa
de Koen, ele fez o serviço com rapidez. Findava a tarde quando
o garoto trouxe as vestes de Rerfard, o líder do bando, para
que Koen pudesse usá-las. Pela compleição forte
e robusta, as roupas couberam muito bem no jovem. Aldreth, porém,
não pegou nada para si, além de uma das espadas. Nas
garupas dos cavalos encontraram mantimentos e duas cotas de malha.
Também havia dois escudos amarrados no cavalo de Refard e
outros dois no de Driscol, o segundo no comando. Ele fora o último
a ser morto por Koen.
Os dois reuniram os objetos e os
cavalos e partiram quando já escurecia. Segundo Aldreth, havia
mais a leste uma caverna onde o bando mantinha seu esconderijo.
Poderiam abrigar-se naquele lugar. Enquanto voltavam suas montarias
na direção indicada por Aldreth, ele timidamente olhou
para seu amo e perguntou:
– E
tu, senhor, como chamarei?
Koen recebeu aquela pergunta como
um soco. Fazia tanto tempo que não pronunciava seu nome, que
não se sentia mais Koen. Aquela luta havia selado o nascimento
de um guerreiro. Deveria ser outro, ter outro nome. Depois de alguns
segundos pensativo, voltou a cabeça para Aldreth e respondeu:
– Sou
Seridath, o Cavaleiro Negro.
Oi Nerito!
ResponderExcluirAldreth é parente do Thomas de Hookton? ;D
Brincadeiras à parte, tá ficando muito bom!
Beijos!
Fê
Bem, Fê, o parentesco é beeem distante... rsrsrs, mas lógico que a saga de Thomas é uma inspiração para minha escrita. Na verdade, outros livros do Cornwell também!
ResponderExcluirbjo