Nas serras que demarcavam o fim
das planícies centrais de Dhar, a vida parecia adiada. Nas
aldeias os camponeses não mais faziam festa aos viajantes,
preferindo manter as portas de suas casas fechadas. O exército
cruzava povoados que observavam, em um silêncio soturno, os
guerreiros em marcha. Por vezes, Urso Pardo tinha êxito em
conversar com algum dos aldeões, e nessas conversas o velho
andarilho constatava que os rumores ficavam cada vez mais sombrios.
Contavam de homens-macaco andando
na escuridão e roubando crianças enquanto elas ainda
dormiam. A peste tornara-se atroz; ouvia-se de povoados inteiros
completamente desertos. Seus habitantes haviam desaparecido
misteriosamente. As pessoas, escravas do medo, tentavam esconder-se
em suas casas, mantendo suas casas fechadas e silenciosas, enquanto a
Companhia passava, ostentando sua força. Alguns, mais
esperançosos, acenavam desejando boa sorte, mas a maioria dos
habitantes apenas espiava com um olhar desconfiado, antes de trancar
bem suas portas e janelas. Para tornar a situação pior,
uma densa neblina agora permanecia continuamente envolvendo aqueles
caminhos.
A chegada da Companhia em Arnoll
ocorreu no décimo dia de viagem, como o andarilho havia
calculado. Urso Pardo acreditava estabelecer na cidade uma base para
as operações no norte. Mas foi uma constrangedora
surpresa ao encontrarem os portões fechados. Um vigia permitiu
apenas a entrada do andarilho, para que o mesmo pudesse tentar um
acordo com o Conde que figurava como senhor feudal da cidadela e das
terras em redor. A Companhia não teve permissão para
atravessar os portões de Arnoll mas, após obstinada
insistência do andarilho, aos artistas e mercadores foi
permitido que permanecessem na cidadela.
Ainda no mesmo dia em que os
homens da Companhia afastaram-se dos muros de Arnoll, outro vilarejo
foi alcançado. A princípio, tudo parecia normal, até
mesmo o silêncio quase estéril que imperava. Mas quando
já estavam mais próximos, o cheiro de sangue invadiu as
narinas de todos, enquanto observavam que aquela aldeia estava
completamente vazia. A portas escancaradas, animais abandonados em
currais, balindo, suplicando por alimento. Alguns desses currais
haviam sido destruídos e o gado que neles estivera agora jazia
em pedaços, como se estraçalhado por feras famintas.
Mas não havia marcas de garras ou presas e sim manchas
sangrentas de mãos humanas.
Seguindo a ordem de Urso Pardo,
alguns homens penetraram nas casas, mas não encontraram nenhum
sinal de vida. O pequeno armazém do povoado estava repleto de
grãos de centeio, que estavam sendo armazenados para o inverno
próximo. O andarilho proibiu que os homens tocassem nos
alimentos, temendo a contaminação. Ordenou que o
exército se pusesse logo em movimento.
A marcha prosseguiu, em ritmo
acelerado. Segundo as informações recolhidas, havia um
outro vilarejo logo à frente. Tendo sido negado o repouso em
Arnoll, a marcha era cansativa para a maioria dos homens, sobretudo
para o jovem arqueiro Aldreth, que sentia-se perdido, desolado. Não
havia mais o clima alegre e descontraído entre os soldados,
muitos talvez já se arrependiam por terem ingressado nessa
empreitada. O garoto não estava entre esses, pois não
tivera o direito de escolher seu destino. Apenas seguia calado, junto
com os outros arqueiros, com olhos atentos em direção
das colinas cobertas de névoa que os circundavam. Voltava
então os olhos para o comprido arco que tinha na mão
esquerda e perguntava-se quando teria que matar alguém. Era
capaz de atingir o olho de um cervo a cem passos de distância,
mas nunca havia disparado contra um ser humano. Talvez não se
sentisse capaz para tanto.
emocionante.
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