Acamparam quando já
começava a escurecer. A neblina tornou-se mais densa e Urso
Pardo decidiu reforçar a vigilância do acampamento.
Naquela noite, os homens não se entregaram aos seus jogos de
dados, como de costume, mas recolheram-se cedo às suas tendas.
Seridath continuava taciturno, sentindo uma crescente excitação.
Aqueles rumores pareciam ser reais, tornando tudo mais interessante.
Logo poderia pôr sua lâmina novamente à prova.
No dia
seguinte, levantaram acampamento e puseram-se em marcha antes do
raiar do sol. O frio apertava os rostos aborrecidos dos homens. O
pequeno exército marchava por um vale estreito e seco, vincado
entre as colinas. A vegetação rasteira estava coberta
de uma camada fina de gelo. Aldreth olhou para trás, tentando
avistar Seridath. Era impossível distinguir o cavaleiro entre
a massa de homens vestidos com as mesmas túnicas e com as
cabeças cobertas pelos elmos de ferro. Mas Seridath estava
atento. Com seus olhos perspicazes, o jovem guerreiro observava a
silhueta de seu servo Aldreth, vestido com o típico gibão
de couro usado pelos arqueiros. O garoto lhe seria
útil quando fosse necessário. E era de sua intenção
usá-lo, mesmo que fosse necessário contrariar o
juramento feito a Urso Pardo.
Sua atenção
voltou-se para uma crescente comoção que acometia os
homens do exército. Olhando à frente, pôde notar
que a neblina havia se dissipado, exibindo um céu de azul
pálido, quase cinzento. Uma coluna de fumo negro erguia-se
atrás de uma colina. O andarilho ordenou que o arauto da tropa
soasse o toque de alerta. Os homens desembainharam as espadas,
arqueiros puseram flechas nas cordas de seus arcos. Os anões
simplesmente resmungaram algo como "é, acho que tá
na hora de morrer".
Chefiados
pelo andarilho, os guerreiros marcharam colina acima. O coração
apertava no peito de cada homem, que olhava para seu companheiro com
um certo ar de cumplicidade e temor. Apenas Seridath permanecia
sereno, olhando sempre à frente, rumo ao topo da elevação.
Ao vencerem a colina, uma cena brutal desvelou-se diante dos seus
olhos. Lá havia as ruínas de uma vila recém-incendiada.
O fogo acabava de devorar a madeira dos casebres, corpos destroçados
espalhavam-se pelo chão. O andarilho, enojado, ajoelhou-se,
suplicando aos deuses que tivessem piedade do povo. Mas sua prece foi
interrompida pelo grito do arauto que o seguia. Algo se movia com
rapidez além da fumaça negra. Os arqueiros, cansados,
acabavam de atingir o topo da colina, enquanto sinalizavam aos anões
para que se apressassem na subida. Mas o toque de alerta soou
novamente. Vultos rápidos já revelavam-se, correndo na
direção do exército. O toque de disparo foi dado
aos arqueiros. Eles rapidamente ergueram os arcos e fizeram uma nuvem
de flechas ganhar o ar e depois abater-se sobre o terreno à
frente do exército. Nem sabiam no que dispararam. Aldreth
voltou seus olhos para o vilarejo e distinguiu aldeões
ensangüentados correndo na direção deles, de
braços abertos. Uma flecha acabava de enterrar-se
profundamente no pescoço de um dos aldeões. Essa flecha
deveria tê-lo matado, mas o homem continuava a correr na
direção deles, o rosto contorcido por um sofrimento
medonho. Então Aldreth entendeu. Aqueles homens não
estavam mais vivos.
Continua...
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