Enquanto viajo por notas bemóis, ele brinca por perto. Rola sua pequena bola com a diligência e a concentração de um oleiro. Sua brincadeira traça caminhos sinuosos pelo chão do apartamento.
Por vezes o pego observando-me. Olha para mim como se me conhecesse mais do que a mim mesmo. E até mesmo isso ele parece perceber.
Agora está mais calmo, mas momentos antes ele lançava miados desconsolados. Minha atenção, meu carinho, minha voz, nada disso parecia suficiente.
Então, coloquei Bessie Smith para tocar e quase pouco depois ele se calou. Parece distraído, mas acho uma coincidência quase mística que a voz forte de Bessie tenha ocupado o lugar de seus lamentos. É como se até ele mesmo soubesse que uma boa voz não tem concorrência. Ou de repente, ele apenas esteja imerso nas recordações de uma de suas outras seis vidas, talvez a menos felina delas.
Originalmente escrito para o Facebook em 23/01/2015.
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