Thin observava as horrendas criaturas percorrerem as ruas da cidadela. Agora o ladrão tinha a certeza que as sombras se multiplicavam. Sentia que Dhor com certeza viera cobrar as suas dívidas. Eram seres de corpos escurecidos, roupas em frangalhos e pele arruinada, repleta de erupções, bolhas e furúnculos. Os olhos, vermelhos, moviam-se para além das órbitas, como se eles estivessem em constante transe. Se é que a expressão “eles” pudesse ser utilizada para aquelas criaturas. Emitiam sons guturais que passeavam entre gemidos e uivos.
Até que o ladrão caiu em si. Aqueles podiam ser os mensageiros de Dhor, mas o rapaz sempre considerou que o deus amava seus servos mais criativos e astutos. Não era momento para perder a calma. “Tenho que dar o fora” pensou ele. Jogou a besta para um lado, desafivelou o cinto da bainha, lançando-a longe, com espada e tudo. Enquanto corria pela ameia, ia jogando fora tudo que denunciasse sua posição como bandido inimigo. Descalçou até mesmo as botas. Apenas ficou com sua adaga, escondido de forma hábil na parte inferior de sua pequena coxa.
Um dos monstros subia a escada que levava à ameia. Evitando o encontro, Thin jogou-se sobre o telhado de um prédio próximo. Era um edifício de dois andares, que parecia ter sido morada de algum comerciante abastado de Arnoll. Com a invasão, passara a ser moradia provisória de Berak, o líder do bando. O rapaz retirou a capa e o gibão, deixou as peças caírem do alto, ficando vestido com uma camisa surrada de lã e sua calça de couro, tingida de preto. Talvez tivesse uma chance de escapar, se conseguisse esgueirar-se como sempre, sem ser notado. Quem sabe se chegasse às prisões antes e se passasse por prisioneiro... Mas algo lhe dizia que era melhor não rumar para aquele lugar.
Agilmente, desceu do telhado e atirou-se com uma cambalhota para o interior de uma das janelas do prédio. Era um aposento claro, ornado com leve luxo. Havia uma cama de madeira, com colchão, uma estante contendo alguns livros e um baú de tamanho médio num canto. Thin, com sua capacidade profissional de avaliar rapidamente um ambiente, lamentou não haver tempo para procurar algo valioso. Desceu com rapidez as escadas a tempo de topar com um criado.
– Os mortos! – gritou o rapaz a Thin – Eles estão tomando Arnoll! Todos morreremos!
O ladrão atrapalhou-se e ambos rolaram da metade da escada até o primeiro andar.
Enquanto o jovem se embaralhava com o criado, Balgata e seus homens avançavam pelos portões. Andavam com calma, ainda tentando recuperar-se dos ardores da batalha. Os inimigos haviam sido praticamente exterminados. Volta e meia um grito desesperado soava em algum lugar, um bandido pedindo misericórdia, enquanto era despedaçado por uma das criaturas.
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