Então ambos viram o povo de Arnoll nas ameias dos muros, balançando
os braços. O barulho da algazarra era tão grande que alcançava os
ouvidos dos dois rapazes. Ao sudeste de Arnoll, despontava uma massa
compacta e organizada de homens, soldados fortemente armados e
equipados, sendo guiados pelo estandarte dourado de uma torre
encimada por uma coroa e com cavalos de ambos os lados. Nenhum dos
dois rapazes disse palavra, mas o pouco tempo passado na capital fora
o suficiente para poderem reconhecer o estandarte e seu dono, um
velho senhor de armadura dourada. Era o Senhor do Reino de Dhar,
chegando para defender seus súditos. O exército do rei deveria
contar com cinco mil lanceiros, além dos homens que formavam
cavalaria, arqueiros, um esquadrão de magos, outro de clérigos. Os
poderosos senhores dos feudos de Dhar marchavam ao lado de seu
soberano. O exército chegava a dez mil homens. Seridath imaginou se
os traidores Denor e Anfard teriam sobrevivido para encontrar o
exército do rei. Mas para ele os fatos começavam a encaixar-se.
Aquele campo de batalha havia sido planejado há muito tempo. Urso
Pardo e seu destacamento deveriam ser somente uma distração, homens
enviados para morrerem sob as lâminas dos inimigos, para atrasá-los,
enquanto as forças oficiais faziam seus últimos preparativos. Mas
onde estaria Serpente Flamejante com seu destacamento de apenas três
mil? O cavaleiro sentiu vontade de rir ao pensar na enorme diferença
entre a Companhia e o imponente exército de Dhar.
Antes que Seridath erguesse a voz e fizesse um gracejo contra seus
antigos senhores, ele viu uma massa de homens proporcionalmente menor
surgindo de um vale a oeste. Não era noite ainda, mas os homens da
Companhia já carregavam tochas, que acentuavam a pobreza desse
exército, frente aos estandartes de Dhar, iluminados por magia,
quase fazendo aquele final de tarde tornar-se manhã. Do exército
sombrio de mortos, notava-se apenas o som dos horríveis tambores.
Seridath por um tempo manteve sua atenção na Companhia em marcha.
Três mil teria sido um número considerável na batalha em Keraz,
mas diante daquele novo exército de mortos era inexpressivo.
Examinando com mais cuidado, o guerreiro pôde perceber a formação
da Companhia, com seus blocos e divisões, bem organizados. A
infantaria estava dividida em blocos simétricos, guiados por seus
respectivos capitães, com arqueiros a flanqueá-los. Guiando blocos
maiores e auxiliados pelos arautos, homens vestidos de forma
extravagante, com roupas de pele e chapéus de pluma, caminhavam
apoiados em seus bordões. Seridath inquiria a si mesmo qual deles
seria o ilustre Serpente Flamejante. Talvez fosse um dos velhos
recurvados que se agrupavam, ocupando o centro do exército. "Aquele
deve ser o conselho tão comentado pelo velho Urso" ponderou
Seridath.
Aldreth olhava deslumbrado toda aquela movimentação. Nunca tinha
visto exércitos tão grandiosos quanto aqueles. Os mortos tomando um
horizonte e o exército de Dhar tomando outro. Seridath tocou-o no
ombro.
– Os outros – disse o rapaz –, vá chamá-los.
Continua...
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