Não me considero um homem religioso. Na verdade, costumo até ser um pouco ranzinza com demonstrações de fé, principalmente por causa do histórico da religião, principalmente a cristã. Além disso, tive meus percalços pessoais nos bancos de igrejas evangélicas. Por isso, costumo sempre ter uma visão bastante crítica em relação à influência das religiões na sociedade.
É impossível negar, porém, que as religiões sempre tiveram sua contribuição para a sociedade, ainda que tal contribuição seja de qualidade questionável. E quando vamos falar de Tradição Popular, esta tem suas matizes de fervor religioso. E por vezes, as histórias que nos tomam ao começarmos a narrar para um público, podem muito bem mostrar facetas de fervor religioso. Sim, as histórias podem tomar a Palavra, deixando o narrador à sua mercê. Acredito que foi isso que aconteceu comigo.
No dia 9 de agosto deste ano, compareci à Escola Municipal Josefina Souza Lima para narrar histórias. Fui convidado pela amiga e colega de trabalho, Kátia Mourão, para participar das comemorações do dia dos Pais e também do Dia do Estudante.
Estava um pouco preocupado, pois não tinha conseguido tempo para me preparar. Eram por volta de 40 pessoas, entre estudantes da EJA e educadores. Sentia uma enorme responsabilidade, pois fazia tempo que não me apresentava sozinho. Estar diante do público amparado pelas amigas e amigos do Coletivo é sempre maravilhoso. Por isso, abandonar esse lugar de conforto era algo um pouco assustador.
Agora, porém, eu estava sozinho. Bem, apenas fisicamente, pois as vozes de tantas pessoas queridas andam comigo, como sempre andarão. E assim, contando com as presenças dessas vozes, eu estava mais firme para começar a apresentação.
Evocando o amigo Joca Monteiro, eu pedi "licença pra contar". Falei do que aprendi com ele, da importância do respeito, da gratidão pelas pessoas que estão diante de nós para nos ouvir. Reforcei o privilégio que temos ao poder falar em um país em que tantos são silenciados.
Comecei então com “As trapalhadas de Zé Bocoió”, que aprendi em um dos livros do grande Ricardo Azevedo. Em seguida, contei “Uma questão de interpretação”. Essa história eu aprendi com a Maria Célia Nunes, narradora de história de longa carreira em Belo Horizonte. Contei então uma história que escutei de minha mãe, quando ainda era adolescente, sobre um rei ateu e seu mordomo piedoso.
O público parecia apreciar, principalmente os mais velhos. Fiquei mais confiante. Continuei então com outra história de sabedoria. Desta vez era sobre um rei insatisfeito comprometido em arruinar o homem mais feliz de seu reino. Fui apresentado a essa história pelo amigo Rodrigo Teixeira, que por sua vez a conheceu por intermédio da Mestra Gislayne Matos.
Com essa história, terminei a apresentação. Agradeci, mais uma vez. Antes de ir pra casa, tive uma agradável surpresa: recebi um cartão e uma caixa de bombons. Fiquei profundamente agradecido.
A noite de 9 de agosto de 2018 foi especial. Nela, pude abrir meu coração. E minhas palavras foram acolhidas com carinho. Diante de tão caloroso público, foi como contar para preciosos amigos. E não deixou de ser isso. Afinal, minha amiga Kátia Mourão, que me convidou para ir à escola, estava entre as pessoas que me escutavam. Para ela e toda a equipe da Escola Municipal Josefina Souza Lima, bem como seus alunos, deixo meu muito obrigado!
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