Por vezes, a Poesia nos pega pela mão e nos leva até a beira do precipício. Ela então nos convida a debruçar e olhar o vazio que existe lá embaixo. E se nos negamos a isso, ela nos pega pelas bochechas e nos faz olhar em seus olhos - onde veremos o mesmo vazio. Podemos até fechar os olhos, mas nós já entramos em sua dança, e ela nos conhece muito bem. É impossível sairmos imunes.
Foi assim que me senti ao terminar Borda, de Norma de Souza Lopes. A voz da poeta belo-horizontina me levou ao silêncio e ao vazio. Mas esse mesmo vazio escondia uma semente de múltiplas possibilidades.
Não há como ler a poesia de Norma e não se sentir um pouco ela. Afinal, ela vai deixando marcas de sua alma nos versos, como "metassinaturas". Sua história marca a palavra de seus Poemas como as cavernas com pinturas rupestres.
Há uma tristeza resignada em seus poemas. Não devemos confundir, porém, com conformismo. Sua resignação está mais para uma voz que admite seus silêncios, seus tropeços, sua condição. Mas nessa mesma resignação é firmada a trincheira da resistência e da luta.
Ainda que haja essa tristeza na maior parte dos poemas, algo como a certeza de que o Amor é miragem, há como que traços de luminosidade, apontando para uma esperança despretensiosa. A voz poética não quer ter razão. Apenas se permite sonhar, a despeito da dor, da angústia, do sofrimento e da rejeição.
Uma tristeza luminosa que nos aponta para o vazio e o escuro que em nós existe, enquanto nos convida a abraçar esse breu, fazer dele um ponto de calor e aconchego, onde possamos fazer brilhar nossa própria luz.
Ficha Técnica
Borda
Norma de Souza Lopes
Número de Páginas: 100
Formato: 14x21
Editora Patuá
Aproveito para compartilhar aqui o vídeo em que eu declamo o poema "Tombo", que faz parte do livro:
Aproveito para compartilhar aqui o vídeo em que eu declamo o poema "Tombo", que faz parte do livro:
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