A Poesia é algo livre. Por vezes, tentamos encerrá-la em formas, mas ela acaba escapando. E o maravilhoso disso é que ela nos puxa para fora de nossa própria gaiola. Nos desconstrói e transforma, fazendo de nós parte dela, num turbilhão de sentidos.
Podemos ver esse fenômeno acontecer quando a Poesia deixa o papel e a tela para habitar as vozes e espaços. Eventos como o Segundo ConVerso de LiteraRua, que procurou celebrar a Poesia, especialmente Marginal.
O ConVerso de LiteraRua foi organizado e produzido pelo Circuito Metropolitano de Saraus.
Compareci ao Usina da Cultura no sábado, dia 15 de junho, às 9h. No centro do salão, cadeiras em roda em frente ao palco, onde algumas pessoas terminavam de fazer os últimos ajustes de som. Cumprimentei o bibliotecário, Diego Dávila, além de outras pessoas da equipe. Andei um pouco pelo espaço, timidamente observando o movimento que crescia.
A primeira roda de conversa, com o tema "Experiência do fazer em espaço público, direito à cidade e ocupação política" contou com a presença de Renato Negrão e Thais Kas. O mediador foi Rogério Coelho, que deu início com uma reflexão ao falar de LiteraTerra.
Negrão e Kas apresentaram suas vivências no fazer cultural e na difusão da poesia marginal. Foi muito interessante ver duas pessoas de perfis tão diferentes, uma da velha guarda e outra da geração mais recente de agitadores poéticos. Em dado momento, Renato passou um livro objeto de sua autoria e assinalou a importância de termos memória, de buscarmos os arquivos ainda vivos da poesia marginal da década de 1990.
Enquanto isso, Thais Kas falou sobre suas referências e os desafios atuais de sua poesia. Além disso, falou de seu amor pela produção, em especial nas ações da Coletiva Manas, da qual faz parte.
Ao final da mesa, o Coletivo Terra Firme se apresentou. Em seguida, fiz um passeio pela feira e já adquiri alguns materiais independentes, zines e marcadores de escritoras que estavam expondo.
Houve então a pausa para o almoço. Aproveitei para escapulir e almoçar em casa. Não participei das atividades da tarde, embora desejasse muito, mas precisava de um descanso. Enquanto eu estava fora, ocorreram as oficinas "Criação de performance poética" pelo Nosso Sarau, de Sarzedo, e "Escrita Criativa-poética" do Sarau Biqueira Cultural, de Ribeirão das Neves.
Cheguei a tempo de pegar o início da segunda roda: "Formação de leitores e público por meio da LiteraRua marginal de Saraus & Slams em diálogo em escolas & Bibliotecas públicas", com Oliver Lucas, Norma De Souza Lopes, Rodrigo Teixeira e Marta Passos. Mediando essa galera estavam Joi Gonçalves e Bim Oyoko.
A fala foi rica e profunda, a partir de diversas visões. A abordagem acadêmica e conceitual de Marta Passos dialogou com a vivência de Norma de Souza Lopes, Oliver Lucas e Rodrigo Teixeira. Este último apresentou uma fala descontraída e repleta de humor, quase como um comediante de stand up. Norma enriqueceu a conversa ao apresentar seu extenso e exaustivo trabalho de mediação de leitura, assim como Oliver também o fez.
Ficou presente com força em minha mente a fala de Marta Passos sobre a política como a contestação da ordem estabelecida. Segundo ela, é o que a poesia marginal faz, sendo ela um dinâmico e transformador fazer político.
Infelizmente, perdi o show da banda Mascucetas, pois precisava ir ao evento "Caldos, Causos e Violas", no Espaço Suricato. Uma festa com sua própria história e que também fala de Arte e Resistência.
No domingo, cheguei cedo para a oficina "Confecção de Zines & Livros" pelo Coletivo Lanternas, de Venda Nova. O mediador, Digô, foi extremamente atencioso e paciente. Fiquei encantado ao ter em mãos dois novos cadernos para serem transformados em histórias e relatos.
No andar de cima da Usina, acontecia a oficina "Edição de vídeo-foto-poesia", pelo Coletivo Avoante, daqui mesmo de BH.
Saímos para o almoço e retornamos para a terceira roda: "Mercado Literário das editoras & feiras independentes, políticas de incentivo à cultura e a profissionalização da literarua marginal". Para discutir a questão, ouvimos Nívea Sabino, Flávia Denise, Jomaka e Walisson Gontijo. Foi uma conversa de desafios e identidades.
Nívea contestou muito a lógica de uma profissionalização do artista marginal. Inclusive ela defendeu seu profissionalismo, e com muita propriedade. Flávia falou de sua pesquisa e do conceito incerto de "escritor independente". Sua fala me fez refletir, principalmente depois de ter escrito um texto abordando esse assunto.
Jomaka então fez um poderoso relato de experiência como escritor trans e ativista na luta antimanicomial. Sua experiência é sofrida e angustiante, mas também encorajadora e potente.
A experiência de Walisson Gontijo, na criação da editora Impressões de Minas junto com Elza, foi muito rica e ajudou a vislumbrar um pouco esse cenário de feiras de editoras independentes a partir do olhar de um editor.
Ao final do dia, pudemos assistir a intervenção da Coletiva Manas, com performances de Lelê Cirino, Jéssica Rodrigues, Débora Rosa e Bruxa. Outras poetas se apresentaram quando o microfone foi aberto.
Aconteceram então plenárias para discutir as ações do Circuito. Não fiquei, pois estava exausto. Porém, deixei claro meu interesse em acompanhar os desdobramentos, como amante da poesia falada e dos saraus da Grande BH.
O evento foi potente, para mim. Reencontrei pessoas, conheci novas faces e fiquei encantado com os trabalhos e livros de muita gente que lá estava. Se pudesse, compraria tudo. E também fui impactado com as falas profundas e responsáveis de todas as pessoas envolvidas. Gostaria de saudar o envolvimento de toda a galera do Circuito Metropolitano de Saraus, em espacial de Camila Félix, DuduLuiz Souza e Vito Julião. E para todas as pessoas envolvidas. Foi maravilhoso estar nesse turbilhão poético!
O evento foi potente, para mim. Reencontrei pessoas, conheci novas faces e fiquei encantado com os trabalhos e livros de muita gente que lá estava. Se pudesse, compraria tudo. E também fui impactado com as falas profundas e responsáveis de todas as pessoas envolvidas. Gostaria de saudar o envolvimento de toda a galera do Circuito Metropolitano de Saraus, em espacial de Camila Félix, DuduLuiz Souza e Vito Julião. E para todas as pessoas envolvidas. Foi maravilhoso estar nesse turbilhão poético!
Amigo, que maratona. Me senti presente. Parabéns pela crônica. Muito bem feita. Quero divulgar na página do circuito.
ResponderExcluirFoi uma maratona mesmo, Norma! E lamento não ter participado de tudo. Amei tudo o que experimentei lá. Desde as mesas às oficinas e também os livros adquiridos. Beijo!
ExcluirQue texto e trabalho de registro incrível Samuel! Muito obrigada pela força e apoio ao movimento do Circuito, desde o primeiro, o nosso começinho. Serei sempre muito grata.
ResponderExcluirEu que agradeço a oportunidade de fazer parte dessa história, Camila!
ExcluirNossa, amor. Lendo seu texto, lamentri não ter ido. Gostei dos detalhes do Converso que você descreveu tão bem. Suas reflexões a partir desse encontro são inspiração para eu participar mais dos Saraus e valorizar cada vez mais os poetas e as poesias marginais. Obrigada por ser a pessoa que me incentiva a descobrir novas experiências com a poesia. Lamento mesmo não ter ido contigo. Seu relato me motiva a participar dos próximos saraus e encontros.
ResponderExcluirPâmela, meu Amor, quero ser sempre inspiração para você.
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