Este era o Afrânio. Como todo roedor, ele era ativo, desconfiado e frágil. Mesmo assim, ele sabia se defender. Aprendi isso da pior maneira, ao pegá-lo de forma desajeitada. Com seus afiados dentinhos, ele me mandou um recado em um de meus dedos. E dele eu me lembrei com frequência nos dias seguintes.
A história de Afrânio é dramática. Ele era cobaia de um laboratório acadêmico e seria sacrificado ao final do semestre. E de repente alguém oferece um lugar para o Afrânio. Mas o que ele recebeu foi muito mais que uma chance de sobrevivência.
Afrânio era amado. A ponto de sua tutora dar comida em sua boca. Ela falava sempre dele. Não era um refugiado. Para a pessoa que o recebeu, Afrânio era alguém.
Infelizmente, nem todo mundo pensa assim. Contra a vontade de sua tutora, Afrânio foi colocado ao relento. E como eu disse o início, seu corpinho era frágil.
Para deixá-lo de fora, os donos da casa tinham como desculpa o argumento de que ele fedia muito. Bem, meu olfato não é dos melhores, mas eu nunca senti qualquer fedor vindo do ratinho.
Sabemos como BH está fria nestes dias. Na semana passada, Afrânio amanheceu fraco e desanimado. A sua cuidadora tentou de tudo para que ele melhorasse, mas a fragilidade foi mais forte. Afrânio partiu.
Foi triste saber da notícia. E foi mais triste ainda saber que a intransigência pode ter matado o Afrânio. Para aqueles que o exilaram, ele não era alguém, era uma coisa.
Do alto de nossa arrogância, sempre achamos que o diferente é inferior. Fazemos isso contra outros seres humanos, por que não aconteceria com uma coisinha tão pequena e frágil como o Afrânio?
Penso em todas as vidas que são destruídas pelo descaso e falta de empatia. Belo Horizonte está muito fria, mas vejo que gelado mesmo está o coração de muitos de nós.
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