Durante o curso Leituras e Infâncias, fui convidado a evocar de minha memória os momentos em que tive contato com a leitura em voz alta, quando ainda era criança.
Existe um momento especialmente marcado em minha infância. Eu tinha por volta de 9 anos. Cheguei à sala de casa e vi meu padastro lendo O Pequeno Príncipe. Ele estava sentado no sofá, em silêncio. Eu me sentei ao seu lado e ele, ao perceber, começou a ler um trecho em voz alta. Era justamente o trecho em que o príncipe e a raposa conversam sobre os sentidos da palavra cativar.
De repente, eu senti lágrimas escorrendo de meus olhos. Eu chorava, de tão emocionado que estava com o amor que a raposa e o príncipe haviam cultivado um pelo outro.
Houve outros momentos de leitura. Lembro-me de segurar em minhas mãos livros de contos de fadas, enquanto alguém lia para mim. Um dos contos era A pequena vendedora de fósforos, de Andersen.
A imagem era vívida e quase se podia sentir o frio que acometia a pequena menina. Assim como o calor da luz que a iluminou enquanto voava em companhia de sua avó.
A imagem era vívida e quase se podia sentir o frio que acometia a pequena menina. Assim como o calor da luz que a iluminou enquanto voava em companhia de sua avó.
E por falar em avó, a mãe de minha mãe contava histórias para mim. Algumas eram assombradas. Outras, cômicas. Sua voz soava tranquila, quase num sussurro, enquanto ela me guiava por caminhos de fantasia.
Outra provocação do curso foi me fazer ponderar sobre o que teria facilitado meu percurso como leitor, bem como o que teria dificultado o mesmo.
A proximidade com os livros facilitou muito a minha formação leitora, ao mesmo tempo que a religião a dificultou. A partir da visão cristã, havia livros impróprios, histórias malditas, por falarem de magia, bruxas e monstros. Essa ideia não perpassou minha infância, mas contaminou com muita força parte da minha adolescência e me afastou dos livros. Em certa época, tornei-me leitor quase exclusivamente da bíblia e de livros religiosos.
Existe outro dificultador em relação a minha formação leitora, que foi o fato de ter morado no interior de Minas Gerais. A cidade em que eu morava, embora não fosse muito pequena, não contava com biblioteca ou livraria. O acesso a livros novos também era difícil, pois estes eram caros. Por isso, eu geralmente recebia livros usados, comprados em sebos de Belo Horizonte, ou doados por familiares. Tenho em meu acervo até hoje livros com nomes de parentes na contra-capa.
A verdade é que eu tinha muita dificuldade em ler, nos primeiros anos. A partir da terceira série, porém, fui apresentado a livros da série Vaga-lume por minha mãe. Ela havia sido encorajada a isso por minha professora. Eu estava no quarto ano, antiga terceira série.
A professora recomendou a minha mãe que não me obrigasse a ler, mas fizesse sutis sugestões. Os livros eram mostrados, oferecidos, mas nunca impostos. Essa ausência da imposição aguçou minha curiosidade. A partir do livro O caso da borboleta Atiria, minha paixão pelos livros teve início e tal fogo nunca mais se extinguiu.
Acho que essa premissa, a de nunca forçar ou obrigar uma leitura, foi fundamental para não me afastar dessa nova possibilidade. Assim, quando os livros se tornaram um lugar seguro para mim, um abrigo e uma casa, pude ter sempre em mente que ler é, antes de tudo, um convite.
A professora recomendou a minha mãe que não me obrigasse a ler, mas fizesse sutis sugestões. Os livros eram mostrados, oferecidos, mas nunca impostos. Essa ausência da imposição aguçou minha curiosidade. A partir do livro O caso da borboleta Atiria, minha paixão pelos livros teve início e tal fogo nunca mais se extinguiu.
Acho que essa premissa, a de nunca forçar ou obrigar uma leitura, foi fundamental para não me afastar dessa nova possibilidade. Assim, quando os livros se tornaram um lugar seguro para mim, um abrigo e uma casa, pude ter sempre em mente que ler é, antes de tudo, um convite.
Que lindo tudo isso!!!!
ResponderExcluirEu não tenho pais que lêem(bem o contrário disso) mas minha infância foi digamos, pesada..rs Eu apanhava demais(minha mãe é um poço de braveza) então para fugir dela e das surras, ia para a biblioteca da cidade..tá, ou o cemitério atrás do meu avô que sempre nos protegia.
Descobri o amor aos livros com A Divina Comédia. Não sei como fui parar com o exemplar surrado nas mãos, eu já tinha uns 11 anos. E fiquei ali lendo, lendo...e me joguei tanto nas emoções que levei o livro para casa e? Nunca mais o devolvi. rs
Apanhei por conta disso quando a bibliotecária bateu na porta de casa. Minha mãe se negou a pagar pelo livro que eu já havia desmanchado de tanto ler(tadinho, já era tão surrado)
Mas..anos depois, já no primeiro trabalho, acabei comprando outro e dando a biblioteca municipal.
Eu já fiquei cega. Cega mesmo. E hoje, mesmo com a visão bem baixa(tenho 20% em um olho e 40% em outro) leio a todo momento.
As letras me salvam de mim. Penso que por isso, o primeiro livro tenha sido meu suporte de vida.
Ah....sei lá..rs(hoje estou falante)
Beijo e que nunca deixemos de....Ler!!!!
Angela
Angela, seu relato é belo e pungente. O que ele tem de triste, tem de maravilhoso. Admiro sua trajetória. Muito obrigado por compartilhar um pouco se sua caminhada aqui. Beijo!
ExcluirConfesso q li com certa expectativa pra Dr onde eu entraria nesse texto...rs... ainda bem q aq em algum momento eu apareci... RS... Parabéns! Tenho orgulho de vc! Acredito em vc!!! Amo vc!!!
ResponderExcluirImpossível não falar da senhora, não é, mamãe! Uma das pessoas que mais me incentivou a ler. Obrigado por isso. Te amo!
ExcluirGreat post
ResponderExcluirTanks
ExcluirOlá Samuel,
ResponderExcluirÉ muito bom quando a família tem o hábito de leitura, meus pais não tinha esse hábito, mas quando comecei a ler, que foi aos nove anos, minha mãe me incentivava, e também iniciei com a série vaga-lume, ótimas lembranças.
Abraço.
http://devoradordeletras.blogspot.com/
Sim, essas lembranças são muito importantes para nossa identidade de leitor. Abraços!
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