segunda-feira, março 21, 2022

A alma perdida e a solidão de si


Imagine que você tem uma vida boa. Bom emprego, bons amigos, saúde e prosperidade. Porém, falta-lhe alguma coisa. Você não sabe o que é, mas por vezes o dia parece desbotado e nada, coisa nenhuma, anima você. Talvez seu problema seja a alma perdida.

Assim se desdobra o livro de Olga Tokarczuk e Joanna Concejo, com tradução de Gabriel Borowski. Na verdade, não é bem assim. O livro tem início com imagens denotando um enorme silêncio. A obra nos convida a silenciar, a estar em um lugar de total atenção e escuta. E assim somos apresentados aos belos e significativos desenhos de Joanna Concejo. Vemos pessoas em parques caminhando no inverno. Sempre agasalhadas, essas pessoas estão em um mundo em tom de sépia, quase a dizer, em sussurros, que algo falta ali.

Então as patentes palavras de Olga Tokarczuk chegam e nos arrebatam para retomar a história que começou em silêncios. Somos apresentados a um homem que perdeu sua alma e está disposto a recuperá-la. 

As palavras de Tokarczuk são precisas. O texto nos envolve nesse dilema que é viver sem alma. e como que nos lança a pergunta tácita: será que, assim como o homem da alma perdida, nós também perdemos as nossas?

Os desenhos de Joanna Concejo são um espetáculo. Com requinte e sensibilidade vão nos contando essa e muitas outras histórias, vão nos encantando e comovendo. Isto é, se não estivermos como o desafortunado protagonista da história.

A múltipla narrativa de Tokarczuk e Concejo nos introduz a várias perguntas. E a que eu mais me fiz foi esta: É possível estar sozinho de si? E caso seja possível, talvez essa se torne a maior das solidões.

No final, sozinhos viemos ao mundo e sozinhos partiremos. Não seria melhor então sermos nossos melhores amigos? Fica o convite a refletir, ler o livro e, é claro, escutar sua própria alma.


Descrição da capa: Em fundo bege, cadeira meio de costas e meio de perfil esquerdo. No encosto da cadeira, um casaco marrom escuro. Sobre a cadeira uma planta com longos e finos braços, folhas largas em formato de coração. Ao lado esquerdo da cadeira, uma mala de mão cinza. Sob a cadeira um tapete listrado de cores amarela, preta e vermelha.


Ficha Técnica

A alma perdida

Olga Tokarczuk, Joanna Concejo

Tradução de Gabriel Borowski

ISBN-13: 9786556920641

ISBN-10: 6556920649

Ano: 2020 

Páginas: 48

Editora: Todavia

Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-alma-perdida-11644067ed11661629.html


7 comentários:

  1. Curiosa pra ler... Vc me empresta?🥰

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  2. Eu peguei emprestado na biblioteca em que a Pam trabalha. É a Biblioteca do Centro Cultural Unimed Minas.

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  3. Amor, amei sua resenha. Ela expressa muito bem a sensibilidade e a força da narrativa. Fiquei por um tempo em meu silêncio após a leitura me perguntando se também perdi minha alma. Tem dias que sinto que sim. Tem dias que sinto que a vejo ao longe e tento me reconectar com ela.

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  4. Parece ser um livro incrível.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está de volta com muitos posts e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  5. Oi, Samuel!

    Não conheço o livro, nem o nome da autora, mas pelo que vc falou, me parece um livro bastante interessante e que convida à reflexão.

    Abraços e bom outono.

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  6. Oi, Samuel, parabéns pela resenha. Peguei este livro ontem na Biblioteca Unimed/Minas Tênis e fiquei muito encantada. Provavelmente lemos o mesmo exemplar. rs. A sensibilidade da escritora é imensa e a forma como é feita a distribuição de desenhos e texto também é muito diferente e mostra um diálogo dos dois elementos. Os desenhos não estão ali ilustrando o texto escrito, mas eles falam separadamente e também na sequência de elementos. E, como você disse, as ilustrações são muito impressionantes, arrebatadoras mesmo. Cada um deles é um quadro. Livro belo em seu conjunto.

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    1. Oi, Bianca. Obrigado por seus comentários. De fato, você disse tudo! As imagens nos arrebatam. Abraço!

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