O menino se chama Eustáquio Mísero. E faz por merecer esse nome. Tem comportamentos extremamente práticos e adora debochar de seus dois primos, os irmãos Lúcia e Edmundo Pevensie. E o deboche piorou quando descobriu que os dois compartilham um segredo: as viagens ao país mágico de Nárnia.
É claro que Eustáquio não acredita que os primos tenham viajado para outro mundo. Essa certeza torna o deboche ainda mais saboroso para ele. Fato é que o menino não suporta aqueles dois, e o sentimento é recíproco.
As férias teriam sido uma tortura para os irmãos Pevensie, hospedados na casa de Eustáquio por motivo de força maior, não fosse o quadro pendurado no quarto em que os dois dormem. Trata-se da imagem de um belo navio a remos, com uma cabeça de dragão na proa, navegando em um mar maravilhosamente tranquilo.
Lúcia e Edmundo acreditam que aquele é um navio de Nárnia. Por isso, investem todo o tempo possível a contemplá-lo, perdidos em nostalgia. Eustáquio, em muitos desses momentos, aparece para debochar deles. Mas então, em um desses episódios, a magia acontece, provando que os irmãos tinham razão.
Aquele é mesmo um navio de Nárnia, levando ninguém menos que o próprio Rei Caspian, o herói do livro que leva seu nome em As crônicas de Nárnia. Caspian está em uma missão de busca pelo paradeiro dos fidalgos amigos do seu pai, os quais foram banidos para o mar por Miraz, o tirânico tio do rei. Acompanhando essa jornada está Ripchip, o Rato, aquele mesmo que operou feitos heroicos no livro anterior.
Assim tem início A Viagem do Peregrino da Alvorada. É talvez um dos mais épicos livros da série, no seu sentido estrito do termo, pois trata de uma jornada grandiosa e que tem a sua cota de perigos. Dragões, monstros marinhos e criaturas invisíveis estão entre esses percalços que os viajantes terão de enfrentar. Sem falar no maior e melhor dos perigos: Aslam, o Grande Leão.
O livro é uma delícia de se ler e acrescenta mais alguns à grande galeria de mistérios do mundo de Nárnia. Estrelas descansando em ilhas, frutos do Vale do Sol, a Faca de Pedra na Mesa de Aslam são alguns desses mistérios. A jornada em si é um grande mistério, podendo ser vista em seu teor figurativo. Ninguém pode negar o tom alegórico dos livros de C.S.Lewis, conhecido pregador cristão. Com isso, podemos pensar na jornada do Peregrino da Alvorada como uma escalada espiritual.
Outra grande alegoria está na metamorfose de Eustáquio. A narrativa tem seu início com foco no menino, mas esse foco se desprende dele e muda para Lúcia. Durante a maior parte do tempo, Eustáquio é insuportáel. Ele não é apenas um péssimo sujeito para os familiares, mas uma compahia odiosa. Há um propósito para que Eustáquio embarcasse nessa jornada e esse propósito é uma das alegorias mais belas de toda a série.
A despeito dessa beleza, gostaria de problematizar a construção da personagem Eustáquio. O livro apresenta o menino de um jeito que me faz pesar que ele e sua família são progressistas "caricaturizados". São descritos como "gente moderna, de ideias abertas". Pelo contexto, dá para perceber que a descrição é negativa e nem um pouco elogiosa.
A despeito desse problema, o livro continua delicioso de ser lido. Com aventuras, mistérios e muita magia, A Viagem do Peregrino da Alvorada é diversão certa, mesmo que seja uma alegoria religiosa.
Ficha Técnica:
A Viagem do Peregrino da Alvorada
As Crônicas de Nárnia # 5
C. S. Lewis
ISBN-13: 9788533616189
ISBN-10: 853361618X
Ano: 1997
Páginas: 235
Idioma: português
Editora: Martins Fontes
Perfil do livro no Skoob: https://www.skoob.com.br/a-viagem-do-peregrino-da-alvorada-1103ed1471.html
Uma bela publicação que gostei de ler
ResponderExcluir.
Continuação de um ano feliz
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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