quarta-feira, dezembro 13, 2023

O pássaro da verdade

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Esta história é contada entre o povo San, que vive no deserto do Kalahari, ao sul da África. Quem a contou para mim foi a Emilie Andrade, na abertura da Sexta Candeia - Mostra Internacional de Narração Artística. Ela por sua vez teve contato com essa narrativa por intermédio de um pesquisador estadunidense chamado Michael Meade.

Dizem que certa vez um caçador, cansado de suas caçadas, sedento e esbaforido, parou às margens de um lago para beber àgua. Enquanto saciava sua sede, viu nos reflexos das águas a figura de um enorme pássaro branco. Ao levantar a cabeça, porém, não viu sinal do pássaro. Apenas o céu azul.

O caçador permaneceu no mesmo lugar o dia inteiro, esquecido de retomar a caçada, olhando para cima, na esperança de novamente ver o pássaro branco. Ao fim do dia, retornou para sua casa.

Uma mudança, porém, se operou no caçador. Ele parecia triste e desanimado. Vivia com os olhos no céu. Não saía mais para caçar. As pessoas perguntavam o que ele teria, ao que nada respondia. Até o dia em que um amigo o interpelou. Ele compartilhou que desde que vira de relance o pássaro branco, nada mais queria a não ser vê-lo novamente. O amigo retrucou que ele provavelmente não havia visto pássaro algum, que tudo não havia passado de um lampejo de raio de sol refletido na superfície do lago. Mas caçador tinha certeza do que havia visto.

Depois de alguns dias, o caçador então tomou uma decisão. Largou definitivamente seu ofício, abandonou o local que nasceu e decidiu partir em busca do pássaro. Por onde ele passava, perguntava se as pessoas tinham avistado a ave. A maioria dizia que nunca a tinha visto. Uns poucos dizia ter ouvido falar.

O tempo passou caçador agora estava velho. Até que chegou em um pequeno vilarejo situado no fundo de um vale. Lá ele ouviu pela primeira vez que sim, esse pássaro existia. Era o grande Pássaro da Verdade e vivia na montanha mais alta, do outro lado do vale. 

Imbuído de uma nova energia, o caçador se dirigiu à montanha e começou a escalá-la. Usou toda a sua força para transpor esse obstáculo. Até que sentiu uma emoção nunca antes sentida. Seu corpo todo se comovia. Era um cansaço impossível. O caçador teve então a certeza de que iria morrer.

E num relance ele sentiu o lufar de asas sobre a sua cabeça. Olhou para cima e nada viu além do céu azul, tão azul quanto naquele dia em que ele vira de relance o vulto do Pássaro da Verdade na superfície das águas do lago, tantos anos atrás. Fraco e cansado, o caçador estendeu a mão. 

Então, lá do alto, planando, cálida e pequena, uma pena branca veio descendo lentamente, uma leve pluma, que pousou na mão estendida do caçador. Ele segurou a pena junto de si e, com um sorriso nos lábios, morreu.

Hoje, após transcrever essa história, eu me sinto um pouco como esse caçador. Sinto-me como alguém que encontrou um dia a Beleza e foi por ela transformado de tal maneira que deseja investir a vida inteira em sua busca. E sem se importar se a busca terá sucesso, estando feliz e realizado apenas com o mínimo sinal de que ela, a Beleza, a Verdade, o Sonho, o Ideal, existe.

6 comentários:

  1. Anônimo5:40 AM

    Q história linda! Comovente! Direto de Santos ( SP)

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  2. Anônimo8:22 AM

    Gostei muito! Linda história!

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  3. Anônimo10:39 AM

    Linda eu adorei vou imprimir !

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  4. What a beautiful and profound story! It resonates with the universal human pursuit of truth, beauty, and the ideal. The metaphor of the hunter's quest for the Bird of Truth captures the essence of a lifelong journey in search of something meaningful and transformative. The willingness to sacrifice, persevere, and find joy in the pursuit itself is a powerful message. It encourages us to cherish moments of beauty and truth, whether fleeting or enduring, and find fulfillment in the pursuit of our ideals.

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  5. Linda história. Não sei o porquê, no último parágrafo quando você fala o que sentiu ao transcrever, a primeira coisa que pensei foi na escrita. A beleza que encontrei na vida, que quase ninguém enxerga, às vezes nem mesmo eu. Obrigada por compartilhar esse texto.

    Até breve;
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com
    https://universo-invisivel.blogspot.com

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  6. Anônimo12:03 AM

    História linda e emocionante!

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